Refugiada norte-coreana: "Foi uma tragédia assistir a uma execução pública aos 7 anos"
O que leva uma jovem de 17 anos (hoje tem 34) a decidir fugir da Coreia do Norte?
Eu acreditava que éramos os seres humanos mais felizes ao cimo da Terra devido à lavagem cerebral que o regime nos fazia, mas com a grande fome de 1995 a 1997 vi pessoas a morrer. Foi um grande choque para mim essa tragédia, tal como já fora assistir a uma execução pública aos 7 anos, e apercebi-me de como a realidade era diferente logo no outro lado da fronteira com a China, que ia vendo pela televisão. Outra das situações que me abriram os olhos foi ver os corpos de compatriotas a boiar na correnteza do rio depois de terem sido mortos. Foi um momento em que me questionei se a Coreia do Norte seria mesmo o melhor país do mundo, como nos diziam. Aí, não me restou senão atravessar a fronteira, além de que, se não o fizesse com 17 anos, logo que tivesse 18, se fosse apanhada, seria enviada para a prisão. Esse era o último ano da minha vida em que poderia tomar uma decisão destas sem ficar presa para o resto da vida.
Não se preocupou com as represálias sobre a família?
Eu era muito ingénua e nunca me passou pela cabeça que nem sequer pudesse regressar. Nunca me preocupei com a segurança da minha família porque jamais imaginei que ao atravessar a fronteira fosse proscrita e ficasse separada dela. Também nunca pensei que ia deixar a família numa situação problemática como a que veio a acontecer, pois os vizinhos e os informadores que havia na fábrica onde a minha mãe trabalhava espiaram-na sempre até que consegui que a minha mãe e o meu irmão [o pai tinha morrido já] saíssem do país.
Ainda não pode regressar à Coreia do Norte, ou nem o deseja?
Não quero voltar porque é um país anormal e jamais poderia sair. Não é um país mas uma grande prisão. Mesmo que quisesse voltar, como saí ilegalmente nunca teria uma vida normal nem estaria segura.